O designer gaúcho Hugo França inaugura a exposição “Orgânico Design” na MeMo Brasil Galeria, no primeiro andar da Saddock 207, em Ipanema, a partir do dia 17 de maio. As peças do designer são pensadas como esculturas – e só depois lhes é aplicada uma funcionalidade. Desta forma, seu trabalho transita em um novo mercado, que une arte e design. Ao todo, dezesseis esculturas mobiliárias (treze peças em Pequi Vinagreiro e três em Braúna, uma madeira negra) estarão expostas na mostra até 7 de junho.
Seu trabalho preserva as características naturais da madeira e as esculturas são transformadas em bancos, mesas, chaises, gamelas, aparadores, esculturas de parede. “Há quem pense que tingimos a Braúna de preto, mas é claro que não faço isso. Meu trabalho é justamente interferir o mínimo possível na madeira, mantendo as referências naturais que ela desenvolveu ao longo da vida”, afirma. E que vida longa tiveram as árvores antes de decaírem: o Pequi utilizado por Hugo França tem, no mínimo, 800 anos de idade. Algumas dessas árvores chegam a 1.200 anos. “O Pequi Vinagreiro é uma árvore monumental de nossa floresta tropical, que pode atingir 50 metros de altura e um diâmetro de 3 metros. Mas que, infelizmente, está em avançado processo de extinção. Em minha busca, não encontrei mais do que 10 exemplares vivos no Sul da Bahia e no Espírito Santo”, conta.
“Ele é o tipo de profissional que admiro, que busca a essência do material. Não tem preocupação com a escola de design tradicional, é mais um artista do que um designer. É um escultor da natureza: consegue enxergar em uma árvore derrubada uma forma, um traço, uma reentrância, e transforma isso em um móvel. Com muita propriedade e um talento incrível, reconhecido no mundo todo”, diz Marcello Vasconcellos, sócio de Alberto Vicente na MeMo Galeria.
“A intenção é levar a árvore de volta ao convívio humano de maneira harmoniosa”, explica Hugo França, que resignifica o conceito da motosserra. “Ela é nossa principal ferramenta. A motosserra não desmata, esculpe. E dentro do nosso processo de produção, que está inserido na cadeia sustentável, ela é muito útil porque faz com que o aproveitamento do resíduo lenhoso seja muito maior.”
Foi em Trancoso, onde viveu por 15 anos, que Hugo começou a perceber o desperdício da madeira vítima de extração ou das intempéries. A convivência com os índios Pataxó, na confecção de artefatos utilitários – principalmente canoas –, despertou ainda mais seu interesse. Foi assim que, no final da década de 1980, quando sustentabilidade ainda não era um termo da moda, Hugo França já fazia ecodesign. Seu design orgânico está presente em lugares como o Instituto Cultural Inhotim, onde se encontra a maior coleção de peças do artista: são mais de 100 esculturas mobiliárias, a maioria de dimensões gigantescas. Também fazem parte do acervo permanente do Museu do Açude e do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, e do Museu Casa Brasileira, em São Paulo, além de integrar coleções particulares no Brasil e no exterior.
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Exposição Orgânico Design
Peças de Hugo França
MeMo Brasil Galeria – Saddock 207: Rua Almirante Saddock de Sá, 207, Ipanema (2523-8095).
De 17 de maio a 7 de junho.
2ª a 6ª, das 10h às 18h; sáb., das 10h às 14h.