Sócio da Rua Arquitetos e diretor do Studio-X carioca, espaço cultural da Columbia University (NY), dedicado a pensar o futuro das cidades no mundo, Pedro Rivera é um profissional múltiplo. Com projetos bacanas assinados pela cidade, como a Galeria de arte Progetti, no centro, ele atua ainda como professor universitário na Puc, e é dono de uma visão de arquitetura ampla e elaborada. Visão típica de quem mergulha na estética urbana dos grandes centros com enorme prazer – e senso crítico afiado.  “O Rio de Janeiro precisa, acima de tudo, de um planejamento urbanístico efetivo”, afirma. “Temos uma cidade de 12 milhões de pessoas, distribuídas em vários municípios. Só que elas não se comunicam”, completa. E faz uma convocação à população em geral: “É preciso sonhar mais. O Rio está passando por grandes transformações e cabe a nós, moradores, imaginar o que esperamos dele no futuro, para onde desejamos que caminhe”. Está dado o recado.

R.D: Você tem uma atuação política no Studio-X Rio. Como funciona esse trabalho e como foi o convite para dirigir o polo carioca?

P.R: Conheci a Universidade de Columbia, e mais precisamente o Studio-X Nova York, em 2009, quando participei de uma mesa sobre informalidade urbana. Neste mesmo período o diretor do curso de arquitetura, Mark Wigley, estava planejando vir ao Brasil para analisar a viabilidade de instalar uma das unidades do Studio-X no país, que funcionaria como um centro gravitacional para a América Latina. Fui convidado a colaborar neste processo e imediatamente percebi a oportunidade que representava ter uma instituição com esta por aqui. Felizmente os esforços e a acolhida no Rio de Janeiro foram muito positivos e assinalaram a possibilidade de sua instalação – antes mesmo da definição da cidade como sede dos Jogos Olímpicos. Neste processo, Mark julgou que eu poderia ser uma pessoa adequada para dirigir o Studio-X Rio e me fez o convite.

O Studio-X Rio faz parte de uma rede global de espaços similares que hoje já está instalada também em Nova York, Mumbai, Pequim e Aman. O conceito desta rede é funcionar como um think-tank dedicado ao futuro das cidades. O modelo operacional de cada Studio-X varia de lugar para lugar conforme sua natureza, mas em comum tem o fato de ser um espaço bastante aberto, flexível e dinâmico, para poder abarcar assuntos diversos relacionados à arquitetura, planejamento, design, artes etc. No Studio-X existe um forte componente especulativo que aspira à imaginação e aos desejos. Mas, evidentemente, quando tratamos de cidades, a dimensão política e a negociação entre as diferentes forças sempre estarão presentes.

Como definiria uma boa arquitetura? Quem é uma referência para o seu trabalho?

São muitas as “boas” arquiteturas, e tão diferentes entre si… Mas acho que, em comum, há o fato de serem feitas com dedicação e comprometimento. E de também acolherem ao homem com dignidade. Mas isto pode acontecer desde a escala de um arranha céu até um pequeno casebre na favela, é difícil definir.

Não tenho dúvidas de que o arquiteto mais interessante de hoje é o holandês Rem Koolhaas. Acho que ele é quem melhor soube capturar o mundo contemporâneo e traduzir isto tanto em teoria como prática. Koolhaas traz uma combinação rara de inteligência aguçada, experimentação radical e uma incrível capacidade de comunicação e realização de suas ideias. Ele é autor do livro “S,M, L, XL”, que considero a publicação de arquitetura mais importante desde os anos 90 e de projetos como o da CCTV, em Pequim; a Casa da Música, no Porto e o Museu de Seattle. Foi também capaz de moldar toda uma geração de arquitetos que trabalharam em seu escritório ou foram seus alunos, como Zaha Hadid e Bjarke Ingels.

Que cidade é uma referência para você em termos de arquitetura?

Eu estou cada vez mais impressionado com Nova York, até mesmo porque o trabalho com a Columbia faz com que eu visite a cidade frequentemente. A primeira qualidade ali é que, apesar de ser a metrópole dos arranha céus, se mantém atenta à escala do pedestre, com uso intenso do espaço urbano, preservando pequenas lojas, calçadas cheias e um ótimo sistema de transportes. É um espaço muito aberto à experimentação, que recentemente inaugurou o High Line e está expandindo numa velocidade incrível sua malha de ciclovias. Também é uma cidade muito fácil de se orientar, o que faz com que qualquer um se sinta integrado muito rápido.

Que projeto te encanta ali?

Acho o High Line interessante por sua singularidade: um parque construído sobre uma linha férrea elevada. O lugar era uma estrutura abandonada – uma bela estrutura metálica coberta de mato – que estava prevista para ser demolida. O projeto nasceu da visão de moradores interessados em criar uma área de lazer como alternativa à demolição da estrutura. Eles montaram uma organização, arrecadaram os fundos necessários e realizaram um concurso de arquitetura, vencido pela parceria Diller Scofidio + Renfro e Field Operations. O projeto do parque foi um trabalho cuidadoso, que incorporou a linguagem industrial da estrutura e o aspecto selvagem da vegetação existente. O resultado é um lugar que oferece paisagens inusitadas e uma experiência urbana distinta da congestão existente no restante da cidade. O sucesso da intervenção tem funcionado como um indutor para o desenvolvimento da área, atraindo novas lojas e empreendimentos.

E o que o Rio de Janeiro precisa, de um modo geral?

Definitivamente, de planejamento. Hoje li que o Governo Federal estava com problemas para liberar crédito e aquecer a economia pela falta de projetos. Nossa cultura não valoriza o planejamento e, por isto, não conseguimos ter visão de longo prazo e produzir processos eficientes. No caso do Rio, é urgente a implementação de uma governança metropolitana. Temos uma cidade de 12 milhões de pessoas, distribuídas em vários municípios, que não se comunicam.  Estabelecer uma governança metropolitana, com metas claras, é primordial. Também é preciso sonhar mais. A cidade está passando por grandes transformações e cabe a nós, habitantes, imaginar o que esperamos dela no futuro, para onde desejamos que caminhe. Não que tudo vá se realizar, mas é preciso apontar caminhos.

Em termos de projetos assinados pela Rua arquitetos, conte um pouco do conceito do seu trabalho, materiais e estilo que aprecia.

Não penso a arquitetura a partir da ideia de estilo, mas de repertório. Gosto de  utilizar materiais brutos aplicados de maneira simples e direta para sua função.

 

Pedro Rivera / Rua arquitetos

Tel: 55 21 2266 0452