A simpática sede do Atelier Fernando Jaeger, localizada no Jardim Botânico – Rio de Janeiro, recebe a mostra “A Casa de Quem Cria”, inaugurada ontem, 21 de junho, com 11 ambientes do imóvel tombado, trazendo o clima de uma casa de verdade, viva e vivida.
– A gente sempre fez mostras sobre criatividade. E, nesse momento tão difícil, voltamos a ela. Acho que a criação é um alimento. Para qualquer pessoa, não apenas aquelas que trabalham nessa indústria. Todo mundo pode e deve buscar a sua criatividade. E, com essa exposição, esperamos também servir um pouco de inspiração para que as pessoas vejam que é possível fazer coisas diferentes, sair dos trabalhos mais mecânicos e criar – diz Regina Kato, sócia do Fernando Jaeger no Rio, que convidou a curadora Simone Raitzik, arquitetos e pessoas ligadas à indústria criativa.
Cada ambiente foi entregue a um arquiteto, a quem coube criar um espaço de introspecção e confinamento (nesses tempos de pandemia) para um criador (pessoas ligadas à moda, artes plásticas, design, cenografia etc). Todos os ambientes são resultado desta parceria. Existe, portanto, um grande diálogo entre arquitetos x criadores.
– Como celebrar a vida e a casa com aconchego e criatividade? Pensamos nessa fagulha criativa e hoje tão necessária em todos os aspectos da vida e, com essa ideia na cabeça, convidamos os arquitetos para desenvolverem projetos únicos, personalizados e “fora da caixa” – com e para clientes criadores. Projetos praticamente a quatro mãos, parcerias. Tem gente da moda, artistas, ceramistas, tecelãs… gente fina que se uniu para deixar a casa do Fernando Jaeger ainda mais “casa”, um verdadeiro lar – explica Simone Raitzik, curadora da mostra.
Acima, espaço “ESPAÇO TERRA” – FITA ARQUITETURA – GABRIELA MACIEL E PRISCILA URAM
CRIADORA: DENISE BRAUNE, CERAMISTA
A premissa do nosso espaço foi utilizar os móveis de forma não convencional, transmitindo funções mais contemplativas para as peças. Criamos uma estante com bancos empilhados que viraram prateleiras e nichos, trazendo um fundo cheio de movimento para a sala. A ceramista Denise Braune trouxe materialidade ao ambiente, com elementos naturais como terra, água, madeira, areia, palha e pedra. Procuramos valorizar a arquitetura da casa, pintando e destacando a esquadria de madeira e um vão pré-existente na sala. O que fizemos foi marcar esta arquitetura e fazer dali uma grande área de exposição, com prateleiras. Para a parede de fundo dos bancos, colocamos um tom de verde mais fechado que valoriza os objetos expostos. Por sugestão da artista, imprimimos em algumas paredes o seu processo criativo.
Acima, espaço “REUNIÃO DE AFETOS” – ARQUITETA: ESTÚDIO VILLA – JÚLIA VILLELA
CRIADORA: CLÁUDIA SAVELLI, DESIGNER
Com boas pitadas vintage, a sala íntima da designer Claudia Savelli reúne um pouco de tudo que a encanta – arte, mix de materiais, de cores e texturas, móveis leves e versáteis – e peças pessoais, escolhidas e desenvolvidas por ela. A poltrona Trama foi customizada pela artista; sua cor preferida, verde água, está no Buffet Loft; os trabalhos de arte são de artistas amigos queridos; o papel de parede, da Branco (assinado por Calu Fontes), deu um tom modernista e reforçou o grafismo muito presente em suas criações… E no mais? Muitos detalhes, fitas, miçangas, adereços, alto astral e ludicidade. São vários elementos com muita individualidade, formando um espaço forte, coeso e, ao mesmo tempo, leve e lúdico.
Acima, espaço “SIMPLES & NATURAL” – ARQUITETA: ISABELLA LUCENA
CRIADORA: ANDREA BRITO VELHO, PRODUTORA DE ARTE E CENÓGRAFA
Descontração alinhada com a sofisticação desenha a receita para descrever a nossa homenageada, a cenógrafa e produtora de arte Andrea Brito Velho. Para traduzir o tom minimalista e orgânico, inspirado pelas linhas arredondadas do mobiliário, um layout foi pensado de forma a deixar a circulação mais livre e tornar o ambiente intimista. Com a paleta em tons areia mesclada com texturas naturais, todos os elementos traduzem uma atmosfera harmônica e vivida. “Já que a sala possui um ar clássico com suas sancas de gesso e pé direito de mais de 4,5m, pensei em fazer um contraste com uma pintura desgastada nas paredes (Suvinil) e desenvolvi – em parceria com Andrea, e seu marido Thomaz Velho – uma luminária em papel de arroz com formas orgânicas”, explica Isabella. O tom é contemporâneo, minimalista e rústico, em um mix sofisticado e simples.
Acima, espaço “TENDA AZUL” – ARQUITETA: CAROL WAMBIER;
CRIADORA: CRISTINA ACHÉ, TINTURISTA, TÉCNICA SHIBORI
Um refúgio para a criação, leituras, descanso e contemplação: assim é espaço da artista Cristina Aché. Com o azul, uma de suas cores favoritas, tingimos o muro (com pigmento mineral), e os linhos das almofadas e cortinas. A maior parte das peças é feita com a técnica de tingimento milenar japonesa, o shibori, que dá às fibras uma tridimensionalidade. Tudo com a delicadeza e poesia que a técnica demanda. Para os dias de chuva e sol forte, projetamos uma cobertura em aço branco com forração em palha de eucalipto tratado. Nesse estar ao ar livre, escolhemos o lindo Sofá Gaivota estofado em algodão cru listrado de vermelho, a Poltrona Jardim em madeira ripada também com listras azuis, e as divertidas mesas Jou Jou para apoio. A espreguiçadeira Carioca foi customizada por Cristina e ganhou tecido personalizado. O paisagismo conta com a parceria da Studio Caeté, que com charme Luso-brasileiro, povoou de plantas tropicais todo o pátio – além da @selvvva, que trouxe charme com seus vasos coloridos. Na varanda da casa, com piso original de ladrilho hidráulico, projetamos um espaço para leitura com a confortável Poltrona Astor, banco Monolito e prateleiras Cê – repletas de objetos da artista. Para completar, pontuamos com a luminária de parede da LampeGras e a de piso Jieldè, ambas francesas. O aparador Nô serve como apoio e organização de objetos de trabalho, amostras e curiosidades.
Acima, espaço “A ARTISTA BORDADEIRA, FIO DA MEADA” – ARQUITETAS: TÂNIA CHUEKE E ERIKA DUARTE. CRIADORA: AS BORDADEIRAS
Um ambiente de criatividade e relaxamento inundado por fios, lãs, tramas, agulhas, tecidos pendurados… Assim é o espaço de criação na residência de uma artista-bordadeira que na realidade, é o alter ego das arquitetas Tânia Chueke e Erika Duarte (Erika dá aulas de bordado e é professora da Tânia). “Como eu já fazia trabalhos de arte, comecei a usar esta outra maneira de pintar, com linhas e agulhas”, explica Tânia. O espaço é vivo com obras, ideias e projetos – tudo em constante transformação. A interação com arte é fundamental e o ambiente provoca reflexão, estudo, leitura e descanso. Quando a artista quer relaxar, recosta na poltrona Proa com puff em veludo . Ela recebe aqui seus amigos no Sofá Cais na lona cor grafite, com lindas almofadas bordadas de veludo e algodão. Nas estantes Dama, guarda objetos afetivos e seu material de criação e produção, que inspiram seu trabalho. Debruçada sobre a mesa e sentada na cadeira Nômade, ela pesquisa sobre todas as possibilidades de criação com linhas e agulhas. Os puffs Lotus e os bancos Tora complementam o ambiente despojado, sob medida para encontros de amor e aconchego. As cores sóbrias nas paredes destacam as obras e trabalhos de arte. Tudo funciona como um quadro branco, com pinceladas de cores (berinjela e amarelo cítrico) e com acabamento de moldura preta.
Acima, espaço “MODA, ARQUITETURA E ARTE” – ARQUITETO: PKB ARQUITETURA – ANA CLARA LIMA , FERNANDA CARMINATE , LUIZA BAETA, PEDRO KASTRUP. CRIADORA: CRIS PINHEIRO GUIMARÃES, CONSULTORA DE MODA, ARTE E DECORAÇÃO
Um diálogo entre moda, arquitetura e arte. O mote dessa sala foi a elegância irreverente da nossa homenageada, a carioca Cris Pinheiro Guimarães, que compartilha suas experiências e conhecimento de arte, arquitetura e moda, através de cursos e das redes sociais. Na escolha das cores, colocamos em prática o tema de um dos seus cursos, “Treinando o olhar para a cor”. Tanto que a porta original da casa foi pintada em tom de um azul incomum (a mesma das janelas da casa da Cris). Atravessando a porta, criamos uma atmosfera mais impactante, com presença marcante da cor vermelha que une um trabalho em tecido de uma roupa criada por um estilista muito citado pela Cris: Guto Carvalho Neto e os móveis do Fernando Jaeger. No outro lado, optamos por acalmar o olhar e diminuir a vibração com uma área de estar e descanso. Utilizamos bases mais neutras e aquecemos com o sofá marinho e as obras de arte. A curadoria das obras de arte foi feita pela Cris, que é colecionadora.
Acima, espaço “JARDIM DAS MEMÓRIAS” – PAISAGISTA: NATIVA PAISAGISMO – LUCIANA LEAL E MÔNICA CHAFFIN. CRIADORA: ELIZABETH ROCHA, CERAMISTA
O jardim repleto de avencas nos remete à memória ancestral que guarda no tempo nossas crenças, lendas e mitos. O Jardim das Memórias é um espaço que convida à conexão com nossas origens e lembranças afetivas através dos trabalhos da ceramista Beth Rocha. Para compôr esse espaço revestimos a parede de fundo com um painel ripado em madeira, ao lado de um jardim vertical, e cobrimos o beiral de vidro com palha de dendê. Ampliamos a área substituindo o piso anterior por brita. Para completar, utilizamos vasos de barro e de cerâmica com plantas de sombra. Escolhemos as cadeiras Zig Zag e as mesas Flik para proporcionar um estar de contemplação. Para tomar um café ou chá da tarde, criamos um ambiente com as cadeiras Deliciosa alta e mesa base Disco. Os bancos Tora e Cepo podem ser dispostos em diversas posições, permitindo observação do espaço em vários ângulos.
Acima, espaço “SALA DE JANTAR DA TINA” – ARQUITETA: LINHA ARQUITETURA – PAULA DAEMON. CRIADORA: VALENTINA STEFANI SALDANHA, VOADOR TECELAGEM
Como uma boa sala de jantar, a mesa é o coração do espaço. Redonda, onde todo mundo se conecta, ainda melhor! Ao redor, doses de criatividade, tecidos, novelos, fios, agulhas, e tudo o que a Tina precisa para fazer a Voador Tecelagem decolar. Para quem não conhece, a Voador é um ateliê de tecelagem que trabalha na criação e confecção de tapetes e tapeçarias decorativas. Hoje, desenvolvem técnicas novas como a tufagem, tapetes divertidos e com textura felpuda, e também telas pintadas em lonas de algodão. Em uma das paredes, criamos um fundo cenográfico com pintura grafite, que irá receber prateleiras do designer Fernando Jaeger no mesmo tom, formando o desenho de uma estante. Nela haverá objetos pessoais da Tina, plantas da Studio Caeté, e acessórios garimpados. Abaixo da estante, está encaixado o Buffet Pilar Ebanizado que servirá de apoio à Mesa Saturno – cercada por toras, bancos e cadeiras Petit. No canto da sala, sugerimos um ambiente aconchegante de leitura: a poltrona Felipe de balanço com uma luminária de piso e uma cortina de linho dando o toque final. Em uma das paredes, vamos fazer uma composição de pratinhos estampados da coleção de Tina, peças afetivas garimpadas por anos em feirinhas e brechós. Vamos ainda lançar um produto novo em colaboração com a Voador: uma luminária pendente feita manualmente com técnica tuft; os bancos Petit receberam forração de tapeçaria com arte exclusiva criada pela Voador; e também estamos preparando uma tela pintada pelo Patrick – designer de sapatos e companheiro da Tina – para ocupar uma das paredes.
Acima, espaço “PONTO DE ENCONTRO” – ARQUITETA: CRIS PASSOS. CRIADORA: ISABELA CAPETO, ESTILISTA
Um lounge alegre, divertido e intimista, com referências e detalhes que a própria homenageada – Isabela Capeto – idealizou. Um lugar para receber amigos e beber um drink antes do jantar. Apaixonada por decoração, Isabela ficou animada com o convite e mergulhou de cabeça na mostra. Participou de todos os detalhes e passou do status de “criadora” para “arquitetar’ ao lado de Cris Passos. “Sou apaixonada por cores e estampas e a Isabela Capeto é estampa, cor, mão livre e uma grande incentivadora e propagadora do artesanal. Anda na contramão de modismos, não segue tendência e aposta na sua intuição artística. Juntas, conseguimos desenhar um espaço sob medida para receber amigos em sofá gostoso, um drink apetitoso, arte e aconchego. Apesar de atuar na moda, Isabela é uma artista do início ao fim. Cada coleção reflete sua forma de ser e viver, assim como sua casa é um espelho de sua estética surpreendente”, conta Cris Passos. O ponto de partida para a decoração foi o tecido, com estampa de folhagens, aplicado em uma das paredes, da coleção Pancs by Isabela Capeto. A ideia foi criar um fundo para sobrepor obras de arte feitas exclusivamente para o local. O tecido utilizado nas cúpulas dos abajures inspirou a pintura de um grande mamão, feita à mão em tecido, pela artista plástica Monica Costa e desenvolvido especialmente para o local. Ao lado, escolhida por Isabela Capeto, a pintura de um Cânion, da artista plástica Juliana Assunção, compõe o visual da parede. A estilista adora plantas e fez questão que “seu jardim” fosse montado com espécies simples e despretensiosas, colocadas por sua tia, a paisagista Anna Luiza Rothier.
Acima, espaço “O OLHAR ALÉM DO VER” – ARQUITETA: B.CO ARQUITETURA – TIÇA BATISTA. CRIADORA: LILA, ARTISTA
Um espaço solar, fluido e afetivo onde falamos de pessoas e de diferentes olhares. Tirando partido do pé direto duplo e da luz natural que ali incide, deixamos uma base completamente branca (paredes, teto e escada), que funciona como rebatedora de luz e que permite uma grande imersão do observador em um ambiente de infinitos tons de azul. A obra da artista Lila, @umanoitenaodormi, fala de ansiedade, diversidade e esperança. Usando a técnica de pontilhismo, ela pinta pessoas – diversas, belas, complexas, porém simples. A escolha do mobiliário do Fernando Jaeger segue o mesmo raciocínio. Móveis leves e brancos em perfil metálico trazem simplicidade e leveza, combinados com peças de madeira maciça e couro natural que aquecem e complementam o ambiente que efetivamente funciona como a recepção da loja. Paisagismo da @casadefloresbrasil.
Acima, espaço “CIRCULADOR DE ARTE” – ARQUITETA: TÂNIA CHUEKE. CRIADORA: SONIA SALCEDO, CURADORA DE ARTE
Concebemos a circulação da Casa da Curadora, à maneira de um espaço hedonista, de plena fruição. Aqui, o corredor, circulação ou hall se caracteriza por ser um espaço arquitetônico que leva a experiências transitórias. O conceito curatorial toma esse estado de transitoriedade e aborda a ideia de fluxo como elo de ligação entre os cômodos da casa. Ou melhor: ambientações. Para tanto, cria nexos entre ambientes distintos, estabelecendo relações formais e conceituais entre eles, por meio de um conjunto de obras de múltiplas poéticas, em diálogo com estilos e temáticas arquitetônicas. A luminotécnica diferenciada mescla visualidade e cena, harmonizando a convivência entre o design do aparador Brasília, a arquitetura centenária da casa e o conjunto exposto. Há, portanto, uma costura poética que relaciona cerâmica, tapeçaria, estilo e arte, em diversas camadas estéticas.
SERVIÇO.
MOSTRA “A CASA DE QUEM CRIA”
DE 21/6 a 31/7 no FERNANDO JAEGER RIO
RUA CORCOVADO, 252. Jardim Botânico.
Tel. 21. 2274 6026 / 98558 1473